Suicídio… A dor de quem fica?

A psicóloga Drª. Clara Alves reflete sobre a dor de quem fica de quem tenha perdido um ente querido num episódio de suicídio. Descubra qual o último ato de amor que tem de fazer para conseguir ultrapassar a dor da perda.

A dor de quem fica pós suicídio.

O suicídio é a situação limite de uma dor tão intensa que tolda a perceção, o discernimento, que inibe qualquer réstia de esperança e que cega qualquer visão de resolução da dor. Os fatores de risco incluem perturbações mentais e/ou psicológicas como depressão, perturbação bipolar, esquizofrenia ou abuso de drogas, incluindo alcoolismo e abuso de benzodiazepinas. Além disso, outros suicídios resultam de atos impulsivos devido ao stress e/ou dificuldades económicas, problemas de relacionamento ou bullying.

Mas, e a dor para quem fica?

O suicídio é um ato que tem uma repercussão emocional muito significativo nas pessoas envolventes, como a família, amigos, colegas e conhecidos. Tal como noutras situações de perda existem as diferentes fases que podem ocorrer em qualquer ordem ou mesmo não ocorrer:

  • Fase de Negação: Em que a pessoa não se conforma com o suicídio de uma pessoa. “Isto não pode estar a acontecer.”
  • Fase de Raiva: Acaba por existir uma incompreensão do ato de suicídio. “Porquê?; Não é justo.”
  • Fase de Negociação: “vamos andando e vendo.”
  • Fase de Depressão: Arrasta a pessoa para um sentimento profundo de tristeza que pode inclusive prosseguir para o resto da sua vida. “Estou tão triste.”
  • Fase de Aceitação: A pessoa acredita que irá conseguir ultrapassar a dor da perda. “Vai ficar tudo bem.”; “Vou conseguir lutar contra isto, é melhor preparar-me.”

Suicídio fragmenta vidas

Um ato de suicídio fragmenta vidas, acarreta uma maior gama de sentimentos e apresenta situações distintas e delicadas para os que ficam. Para além destas fases, anteriormente mencionadas, quem fica tem de lidar com todo um contexto violento:

  • Deparar com imagens trágicas que maculam locais que até então eram comuns, passam a ser marcados com tristeza e morte.
  • Algo que devia ser privado, acaba por ser exposto ao domínio público, vizinhos, conhecidos etc.
  • A incompreensão do motivo, o sentimento da dúvida paira sobre o círculo mais próximo afetado, isto é, “se poderíamos ter feito alguma coisa, em que falhámos, o que não percebemos? Fizemos todo o possível? Se não tivesse saído/ido trabalhar, etc , poderia ter evitado?”.
  • E quando surge a sensação de algum alívio da dor, ou seja, quando o sofrimento da família começa a aliviar. “É correto, é justo?”

O suicídio não decorre de uma única causa. É um acontecer que concretiza e finaliza um processo de sofrimento individual muito intenso, afetando toda a química cerebral e culmina naquilo que se pretende de pôr fim à dor e aliviar os que se ama.

Para quem fica tem de passar por um processo de luto dolorosíssimo e inimaginável. É importante ficar a noção que naquele momento de desespero existe a crença que irão ficar bem, possivelmente até melhor.

Conclusão

O suicídio e a dor de quem fica exige respeito pela dor e pela situação. Sem dúvida que é um processo lento de cicatrização, com a perceção e responsabilização sobre o controle da vida, redimensionamento dos papéis, criação de nova identidade, reconhecimento da dor e dos riscos envolvidos.

Em suma, o luto de um suicídio exige um último ato de amor, o Perdão. Um ato de amor para quem escolheu partir e um ato de amor próprio que se permite continuar a viver.

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